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KILLER JOR – MATADOR DE ALUGUEL/Crítica – amoral exposição do desamor

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Conduzindo uma história tensa e irônica que perpassa pelo erotismo e a violência, William Friedkin constrói com Killer Joe – Matador de Aluguel, um clássico amoral sobre o desamor nestes fins de tempos. Um dos grandes filmes do ano, em cartaz até esta 5ª feira, 6

Matthew McConaughey, o insano policial KILLER JOE - MATADOR DE ALUGUEL (2011), de William Friedkin

Matthew McConaughey, o insano policial KILLER JOE – MATADOR DE ALUGUEL (2011), de William Friedkin

Ex-marido, nora, filho e filha contratam um matador de aluguel para dar cabo da própria mãe a fim de se apoderarem de uma apólice de 50 mil dólares. O matador não é ninguém menos do que… um policial.

Este enredo não tem nada de novidade e apenas se acrescentaria como mais uma trama banal de assassinato familiar à futilidade que se tornou a vida humana conforme, por exemplo, a exposição diária da criminalidade nos explícitos, sangrentos e indigestos programas policiais da hora do almoço. No conjunto dos crimes em que gente tortura, estupra, mata a sangue frio, pedófilos investem nos filhos dos irmãos e irmãs e insanos tocam fogo nos semelhantes, as tétricas tramas de matricídio marcam uma violência tão inconcebível que, acredite, tem gente afirmando que se trata de coisa do fim dos tempos.

Killer Joe – Matador de Aluguel não prenuncia ou faz qualquer referência ao fim dos tempos, seja por questões divinas, climáticas ou espaciais, mas faz refletir sobre as ações humanas nefastas que, em nome do dinheiro e do ódio, tornam filhos, mães e pais assassinos familiares, expressando a nossa sociedade em sua terrível loucura pela posse do dinheiro. Na verdade, Killer Joe faz uma crítica direta e impactante da materialidade que toma conta do homem e da insanidade que marca os tempos atuais como uma espécie de retomada aos tempos imemoriais da barbárie.

Emile Hirsch e Juno Templo: amor de irmãos entre a inocência, segredos e a imprevisibilidade

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Killer Joe, no entanto, vai mais adiante, não ficando apenas nessa superfície da exposição das fraquezas humanas ou de exposição violenta e chocante da sociedade capitalista. Tracy Letts, o autor da peça teatral (escrita em 1990, chegou pela primeira vez ao teatro três anos depois e encenada off-Broadway em 1998 com Scott Glenn, Amanda Plummer, Michael Shannon, Sarah Paulson e Marc Nelson), e William Friedkin, o cineasta que a leva para o cinema sem o menor ranço dos palcos, compõem uma visão visceral dos tempos atuais na qual ninguém está isento de pecados. Somos animais humanos.

Mas, veja bem, Killer Joe expressa a sociedade democrática a partir de uma família classe média, que possuía terras cultiváveis e que foi se degradando a partir do contato com o tráfico das drogas. O enredo de Letts expressa os sonhos perdidos de gerações de jovens que viram na comercialização das drogas a chance da posse de dinheiro e poder e se perderam em uma viagem sem volta.

Gina Gershon e Thomas Hadden Church: traição e complôs

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Chris Smith (Emile Hirsch), aos 22 anos, abandonou a fazenda e, antevendo vantagens, tornou-se vendedor de drogas. De repente, se vê ameaçado de ser morto quando a sua mãe alcoólatra rouba a sua muamba. Precisando de seis mil dólares para pagar ao chefão local, desesperado, consegue o apoio do pai, Ansel (Thomas Hadden Church), que vive com outra mulher, Sharla (Gina Gershon) – interessada como beneficiária –, e da irmã, Dottie (Juno Temple), para matar a própria mãe, a qual possui um seguro de 50 mil dólares. Mas, como precisam de um especialista que não deixe rastros do crime, contrata um policial, Joe Cooper (Matthew McConaughey), conhecido por Killer Joe – por conciliar a profissão de matador de aluguel –, para executar o serviço.

Killer Joe poderia ser um mero thriller criminal. Mas, não. O interesse do autor da peça e do diretor do filme é dimensionar essa história como um drama social e familiar. Familiar, referente a uma família disfuncional que desce as drogas, o crime e a degradação moral; e social, referente a perdição da juventude – aquela que entra no jogo do submundo sem ficha. Chris e Dottie, os irmãos, são simples jovens inocentes que entram numa roubada por desconhecimento e ignorância da realidade na qual vivem.

Juno Templo: objeto de desejo de um matador apaixonado

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E essa ignorância começa a cobrar o seu preço quando, sem dinheiro para pagar a entrada pelo serviço, eles têm de entregar  Dottie a Joe como uma garantia. No rol das fraquezas humanas, Joe, um assassino frio, impiedoso e calculista, passa a externar o seu lado humano ao apaixonar-se por ela. Mas, não pense que isso será ponto contra ele. Ao contrário.

Essa crueza da violência dos personagens está igualmente a serviço do enredo e, consequentemente, do próprio filme. E entre os diálogos repletos de ironia e sarcasmo, as ações patéticas de seus personagens, da inocência ignorante dos irmãos, da violência animalesca de Joe e a reação a toda uma desgraça insana a cargo de Dottie, Friedkin desce à beira do hardcore na cena chocante Joe obriga Sharla a fazer sexo oral com uma coxa de frango – e esta é, claramente, uma peça da metáfora do que seria na verdade. Com isso, o enredo faz uma exposição daquelas pessoas as quais os estadunidenses chamam de White Trash (lixo branco), gente sem estudos, trabalho ou perspectivas – ou seja, cultural e economicamente nula.

Matthew McConaughey e o diretor William Friedkin Foto: Associated Press

Matthew McConaughey e o diretor William Friedkin Foto: Associated Press

Killer Joe faz, assim, uma expressão da miséria social atual, na qual a juventude, abandonada e perdida pela ausência ou desinteresse da educação e da ausência da essencial relação familiar no âmbito do carinho e do diálogo; do amor vilipendiado pelo interesse e o desejo carnal, da visão da facilidade e do dinheiro do submundo como instrumento de sucesso, da corrupção de transforma homens da lei em assassino sob a segurança do Estado.

Estruturado em personagens críveis e intensos, diálogos duros e fortes, imagens impactantes e na direção impecável de William Friedkin na condução de uma narrativa moldada no campo da amoralidade, Killer Joe é uma obra provocante e de inquietante reflexão.

Onde assistir

Multiplex UCI Ribeiro/Cinema de Arte
Faixa Nobre – até 5ª feira, 6, às 19h

Ficha técnica

Killer Joe – Matador de Aluguel (Killer Joe, EUA, 2011), de William Friedkin, com Matthew McConaughey, Emile Hirsch, Gina Gershon, Thomas Hadden Church e Juno Templo. Califórnia Filmes. 103 minutos. 18 anos.

 

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